O Último Salão do Defender?
É uma boa pergunta e um título bem picareta. O tratamento que a Land Rover do Brasil, que não está sob a égide da Ford, como a Land Rover inglesa, dispensou (este é o termo exato) aos jornalistas foi no mínimo uma perda de tempo. A grande estrela do stand era o novo Range Rover: dourado, maravilhoso, mas girando no espeto giratório e ninguém podia chegar perto, muito menos entrar. Aliás só entra nele quem tiver uns 400 mil reais para gastar. Colocado a venda em junho, no primeiro mês foram comercializadas 1.223 unidades, superando o recorde anterior do ano 1989. A relativamente recente mudança da presidência da Ford implantou a filosofia moderna de ouvir, atender e agradar ao cliente, coisa que não chegou a Land Rover do Brasil.
Pré-anunciado para a linha Defender estava um novo painel, que você pode conferir nas fotos. Ele não acrescentou nada e ficou alguns anos atrás dos painéis de seus concorrentes como o Troller, Crosslander e Jalapão. Mas falar em concorrentes é complicado, pois o Defender 90 só admite duas pessoas viradas para frente, enquanto o Troller leva quatro. Dizer que o Defender 110 pode levar cinco pessoas no banco traseiro é uma incoerência: se tiver mais de 1,70 m de altura, não leva nenhuma, enquanto no Crosslander e Jalapão passageiros de 1,80 m encontram seu espaço.
Outro anúncio era o novo sistema de ar-condicionado para o Defender, mas era melhor terem deixado como estava. O único espaço mais ou menos amplo que havia no Defender era para o passageiro dianteiro. Agora, o sistema de ar-condicionado começa debaixo do painel e vai quase até a linha do assoalho, ocupando um palmo e tornando o espaço mais claustrofóbico que nunca. As saídas do ar gelado se dão exatamente na rótula esquerda e direita do passageiro, um anacronismo automobilístico! Ah, é o único condicionador de ar do mercado que vem de fábrica com desconforto automático...
Aproveitamos para levar nossas queixas à empresa, que numa mostra de grande coesão entre seus diretores se mostrou unida e firme mesmo observando concorrentes mais bem estruturados nos stands ao lado. Primeira pergunta: “Por que não há local para colocar a placa de licença traseira?” – resposta: “É assim mesmo, porque em cada região do Brasil as placas são de tamanhos diferentes e é preciso fazer furos diferentes” – note que a placa padronizada pelo Contran não cabe na traseira do Defender...
Quarta: “Já que os bons pneus off-road atuais são aro 15, por que o Defender vem com aro 16? Onde comprar rodas de aro 15 para o Defender?” – resposta: “A fábrica optou pelo aro 16 pela sua altura. Você já viu algum pneu de aro 15 com a mesma altura que o Steeltex? As concessionárias podem indicar onde comprar rodas de aro 15”. Quinta: “Quer dizer que se eu quiser comprar um Defender para fazer trilhas, tenho que tirá-lo da loja e ir a uma loja de rodas e pneus para comprar outros cinco conjuntos? E o que eu vou fazer com as cinco rodas e pneus originais sem uso?” – resposta: “É isso mesmo”. Sexta: “Por que a Land Rover não atualizou o motor para os novos 2.8, inclusive do mesmo fornecedor atual, já que todos os concorrentes estão com esses motores?” – resposta: “O 2.5 é suficiente”. Depois fizemos considerações sobre o espaço interno da linha Defender que está ficando cada vez mais apertada em relação aos outros 4x4, mas não houve uma resposta da empresa.
A grande chamada para o Salão era o lançamento do Freelander, plataforma onde a Ford está investindo um bocado. No Salão de 2000 havia dois exemplares que ficaram sob lonas do lado de fora. A alegação foi não ter preço de mercado. Na coletiva de imprensa, após distribuir folhetos de consumidor (rejeitados por muitos jornalistas) ao invés de press-kits, o Freelander foi colocado numa posição onde não havia como fotografar. Para melhorar, estava trancado...
Agora pudemos entender porque a empresa, antes do controle pela BMW, durante e agora com controle da Ford está investindo nessa plataforma. Ela é excelente e nada tem a ver com a linha Defender ou Discovery, com uma forte identidade própria. Ou seja: a empresa sabe tudo de ergonomia, mas opta por não melhorar a plataforma Defender. Só que não se pode garantir que o Freelander vá ser vendido no Brasil apesar de custar apenas entre 23 e 31 mil dólares nos EUA.
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