O Último Salão do Defender?
Texto e fotos de José Roitberg


Range Rover 2003 é um sucesso de vendas na Europa e EUA

É uma boa pergunta e um título bem picareta. O tratamento que a Land Rover do Brasil, que não está sob a égide da Ford, como a Land Rover inglesa, dispensou (este é o termo exato) aos jornalistas foi no mínimo uma perda de tempo. A grande estrela do stand era o novo Range Rover: dourado, maravilhoso, mas girando no espeto giratório e ninguém podia chegar perto, muito menos entrar. Aliás só entra nele quem tiver uns 400 mil reais para gastar. Colocado a venda em junho, no primeiro mês foram comercializadas 1.223 unidades, superando o recorde anterior do ano 1989. A relativamente recente mudança da presidência da Ford implantou a filosofia moderna de ouvir, atender e agradar ao cliente, coisa que não chegou a Land Rover do Brasil.


Nunca sonhou um um Defender em alumínio polido? Esta opção não estará à venda.

Pré-anunciado para a linha Defender estava um novo painel, que você pode conferir nas fotos. Ele não acrescentou nada e ficou alguns anos atrás dos painéis de seus concorrentes como o Troller, Crosslander e Jalapão. Mas falar em concorrentes é complicado, pois o Defender 90 só admite duas pessoas viradas para frente, enquanto o Troller leva quatro. Dizer que o Defender 110 pode levar cinco pessoas no banco traseiro é uma incoerência: se tiver mais de 1,70 m de altura, não leva nenhuma, enquanto no Crosslander e Jalapão passageiros de 1,80 m encontram seu espaço.


Novo painel do Defender com um módulo central prateado. As bolotas de câmbio em alumínio são um bom opcional.


Novos instrumentos que não acrescentaram modernidade. Note o velocímetro supre-otimista para 200 km/h. O hodômetro é digital.

Outro anúncio era o novo sistema de ar-condicionado para o Defender, mas era melhor terem deixado como estava. O único espaço mais ou menos amplo que havia no Defender era para o passageiro dianteiro. Agora, o sistema de ar-condicionado começa debaixo do painel e vai quase até a linha do assoalho, ocupando um palmo e tornando o espaço mais claustrofóbico que nunca. As saídas do ar gelado se dão exatamente na rótula esquerda e direita do passageiro, um anacronismo automobilístico! Ah, é o único condicionador de ar do mercado que vem de fábrica com desconforto automático...


A nova solução para o ar-condicionado é péssima, pior que a antiga, roubando muito espaço do pouco que já existia: hora de redesenhar o painel inteiro! O piso de alumínio é muito bom.

Aproveitamos para levar nossas queixas à empresa, que numa mostra de grande coesão entre seus diretores se mostrou unida e firme mesmo observando concorrentes mais bem estruturados nos stands ao lado. Primeira pergunta: “Por que não há local para colocar a placa de licença traseira?” – resposta: “É assim mesmo, porque em cada região do Brasil as placas são de tamanhos diferentes e é preciso fazer furos diferentes” – note que a placa padronizada pelo Contran não cabe na traseira do Defender...

Segunda pergunta: “Por que o pára-choque traseiro é opcional custando 900 reais?” – resposta – “Veja bem, o que está no Defender é o pára-choque. É opcional o que os jipeiros chaman de quebra-mato com pino de reboque”. Terceira: “Por que a Land Rover não oferece um pneu de jipe para um 4x4 full-time, nem como opcional, mas apenas o Firestone Stelltex (ao lado), um FSR para aro 16, que é um pneu de caminhão para asfalto sem possibilidade de limpeza de lama?” – resposta – “Não vemos problema nenhum nesse pneu. Eu mesmo já fiz diversas trilhas com esse pneu em dias com muita chuva e muita lama e não tive problema algum”...

Quarta: “Já que os bons pneus off-road atuais são aro 15, por que o Defender vem com aro 16? Onde comprar rodas de aro 15 para o Defender?” – resposta: “A fábrica optou pelo aro 16 pela sua altura. Você já viu algum pneu de aro 15 com a mesma altura que o Steeltex? As concessionárias podem indicar onde comprar rodas de aro 15”. Quinta: “Quer dizer que se eu quiser comprar um Defender para fazer trilhas, tenho que tirá-lo da loja e ir a uma loja de rodas e pneus para comprar outros cinco conjuntos? E o que eu vou fazer com as cinco rodas e pneus originais sem uso?” – resposta: “É isso mesmo”.

Sexta: “Por que a Land Rover não atualizou o motor para os novos 2.8, inclusive do mesmo fornecedor atual, já que todos os concorrentes estão com esses motores?” – resposta: “O 2.5 é suficiente”. Depois fizemos considerações sobre o espaço interno da linha Defender que está ficando cada vez mais apertada em relação aos outros 4x4, mas não houve uma resposta da empresa.


Freelander impedido para a imprensa no primeiro dia

A grande chamada para o Salão era o lançamento do Freelander, plataforma onde a Ford está investindo um bocado. No Salão de 2000 havia dois exemplares que ficaram sob lonas do lado de fora. A alegação foi não ter preço de mercado. Na coletiva de imprensa, após distribuir folhetos de consumidor (rejeitados por muitos jornalistas) ao invés de press-kits, o Freelander foi colocado numa posição onde não havia como fotografar. Para melhorar, estava trancado...

No dia seguinte, pudemos entrar neste 4x4 sem reduzida, mas com controle de descida de inclinações e descobrimos um mundo off-road completamente diferente. Tivesse reduzida, o Defender deveria se aposentar. A ergonomia do Freelander é excelente com muito espaço para o motorista a para os passageiros do banco traseiro. Note na foto como os bancos dianteiros são afastados do chão, criando espaço para as pernas dos passageiros traseiros.

Agora pudemos entender porque a empresa, antes do controle pela BMW, durante e agora com controle da Ford está investindo nessa plataforma. Ela é excelente e nada tem a ver com a linha Defender ou Discovery, com uma forte identidade própria. Ou seja: a empresa sabe tudo de ergonomia, mas opta por não melhorar a plataforma Defender. Só que não se pode garantir que o Freelander vá ser vendido no Brasil apesar de custar apenas entre 23 e 31 mil dólares nos EUA.


Interior esportivo do Freelander foto divulgação Land Rover

 

 

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