20.03.03 20:00 - Jipemania M1A2 O TANQUE QUE VAI VENCER A GUERRA NÃO EXISTE

A história do tanque Abrams começou dentro do mesmo programa modernização que resultou no Hummer e no transporte de tropas Bradley. O primeiro exemplar da série M1 ficou pronto, lá longe, em 1978, pouco depois do final da Guerra do Vietnã, que terminou em 1975, produzido pela General Dynamics. A primeira série durou pouco, apenas até 1985, sendo substituída pela M1A1, de curtíssima vida, pois em o M1A2 já estava em produção no ano seguinte. Como fato comum, você deve ter visto a mídia televisiva e os jornais falarem um monte de besteiras sobre este “o mais moderno tanque americano, uma novidade”... Você deve lembrar dos mesmos jornalistas falando do AR15, a nova arma americana na Guerra do Golfo, quando o fuzil correto é o M16, que estava em uso há quase 30 anos na ocasião. Bem esse é o papel dela. O nosso papel é mais amarrotado.

Os americanos costumam dar os nomes de ex-generais aos seus tanques como: Sherman, Patton, Sheridan e entre outros, o de Creighton W. Abrams, ex-chefe do Estado Maior e comandante do 37o Batalhão Blindado. Ao todo o exército americano recebeu 3.273 unidades do M1; 4.796 do M1A1 – que mesmo substituído pela versão M1A2 continuou em produção. Os fuzileiros navais americanos (US Marines – chamados pela mídia, de marinha), têm 200 M1A1, cuja produção irá pelo menos até 2005 devido a um pedido adicional de 200 unidades feito pelo Egito, para se somarem aos 555 co-produzidos em território egípcio.

O “novo”, “fantástico” e “inédito” M1A2 teve apenas 77 unidades entregues ao exército americano e é um modelo de exportação para os países árabes. O Kwait comprou 218 unidades e a Arábia Saudita ficou com mais 315. que se saiba, nenhum deles entrará em ação. Um programa para repotenciar os velhos M1 americanos para M1A2, contemplou apenas 600 unidades que começaram a ser entregues em 1998. A Primeira Guerra do Golfo foi lutada com os M1 e M1A1 que tinham até 17 anos de idade. Hoje, os tanques envelheceram e estão com até 25 anos de uso. Até a guerra anterior, em 1991, nunca tinham sido provados em combate.
Em fevereiro de 2001 foi assinado um contrato para a entrega de mais 240 M1A2 com o moderno sistema de computadores de campo de batalha. Como tal contrato ia até o final de 2004, não se sabe quantas unidades deste último modelo estarão em ação. O mais interessante deste sistema, parecido com o das naves do Star Wars, é que o comandante do tanque possui duas telas de cristal líquido que mostram um painel de batalha tático (como o dos jogos de computador) com o terreno, localização e dados das unidades amigas e inimigas, recebendo sinais de satélites militares e de aviões de localização de alvos em terra. Os tanques também podem trocar entre si dados codificados em alta velocidade sem chance de interferência pelo inimigo. Dependendo da missão, o mapa de rota e os dados do campo de batalha à frente já estão programados de antemão.
A finalidade de um tanque como este é penetrar nas linhas inimigas e destruir o que encontrar pela frente. Os modelo M1 possuíam um canhão de 105 mm com cano raiado que prometia ser ineficaz contra os novos canhões de cano liso dos tanques russos com 125 mm de diâmetro. A partir da M1A1, o canhão foi trocado por um 120 mm de cano liso, o que exigiu uma torre redesenhada e aumentou em 8 toneladas o peso do Abrams, que chega às 68,7 toneladas em ordem de batalha.
Seus quatro tripulantes – comandante, motorista, artilheiro e carregador – estão protegidos de ambiente hostil químico-bacteriológico-nuclear (NBC) e podem viajar – no máximo - apenas 442 km entre os reabastecimentos, quase o dobro dos tanques da Segunda Guerra Mundial, mas ainda assim muito pouco para ir do Kwait à Bagdá. As unidades blindadas precisam arrastar um oleoduto atrás delas para garantir sua mobilidade. O devorador de óleo é um motor traseiro a turbina multi-combustível Lycoming Textron de 1.500 cv, o que resulta numa relação peso/potência de 45,8 kg/cv (só para dar uma idéia). Isso permite a Abrams acelerar de zero a 32 km/h em 7 segundos e chegar a uma velocidade máxima de 67 km/h na estrada, pois fora dela consegue deslocar-se no máximo a 48 km/h.

O tanque não é um 4x4. Tem uma configuração 4x2 traseira convencional. Seu sistema de motor pode ser removido como uma unidade interia e trocado em alguns minutos. Seu câmbio hidro-cinético é automático com 4 marchas à frente e duas à ré, com reduzida. O motorista fica numa posição central logo embaixo do cano do canhão e possui um guidom tipo motocicleta com acelerador nas duas manoplas. A pequena alavanca do câmbio auto-4 fica entre as manoplas e há dois pedais de freio: um normal e um para freadas de emergência.
Para vencer uma rampa de 27 graus sua velocidade máxima é de apenas 6,6 km/h. O comprimento com o canhão para frente é de 9,77 metros e com o canhão para trás fica com 8 metros; sua largura é de 3,66 metros e sua altura fica ali pelos 2,35 metros. Como armas adicionais possui lançadores de granadas de fumaça e três metralhadoras: uma de 7,62 mm (calibre do FAL) em paralelo com o canhão, outra para o “carregador” sobre a torre e uma .50 pol para o comandante, também sobre a torre. Estas duas expõe os tripulantes aos projéteis inimigos. A altura livre do solo é de 482 mm e pode subir um degrau de 2,7 metros (você leu certo).

Mas um tanque não é nada se não falarmos de sua blindagem e do canhão, pois ele acaba sendo apenas isto: sobreviver e matar. Entre as chapas de aço especial, é usado um recheio de urânio exaurido. Antes que alguém diga que os EUA estão usando armas nucleares, é bom ficar claro que este é o resíduo de urânio processado, não radioativo, senão a tripulação não sobreviveria. É uma das substâncias mais duras que se conhece, também sendo usada em munição para perfurar blindagem. Como também é mais pesada que o chumbo, possui um uso muito menos nobre como contra-peso para ajeitar cargas em aviões: cargueiros ou de passageiros. Sempre que você estiver lá em cima, tem urânio exaurido debaixo de seu traseiro!

O canhão de cano liso com 120 mm de diâmetro é estabilizado por giroscópios e computadores, com mira laser, capaz de se manter alinhado com o alvo em qualquer movimento do tanque, qualquer terreno e qualquer velocidade. Sua munição pode matar o blindado inimigo a 4.000 metros de distância. Possui vários tipos de projéteis de penetração por energia cinética e de alto-explosivo (para tropas e edificações), conforme o alvo.

Para os tanques inimigos, é usado o projétil de urânio exaurido tipo sub-calibre. Pela foto fica fácil de entender. O canhão acelera por seu tubo um projétil pesado de 120 mm de diâmetro. Ao sair do cano, a parte externa se solta liberando um dardo de urânio que ganha altíssima velocidade, com o peso que perdeu. Como energia é igual à metade da massa vezes o quadrado da velocidade, pequenos ganhos de velocidade aumentam muito a energia do dardo que penetra a blindagem inimiga e freia. Nessa perda de velocidade a energia é transformada em calor e tudo vai pelos ares. Na Guerra do Golfo, essa combinação destruiu centenas de blindados russos e brasileiros usados pelo Iraque e nenhum Abrams foi perdido.
Se você entendeu bem até aqui, a força de ataque mais moderna do mundo vai para o pau com tanques de até 25 anos de idade, com computadores Star Wars e lançando flechas nos inimigos... A verdade espeta!
por José Roitberg.
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